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domingo, novembro 30, 2003

imagens de viagem


Áustria - Strengen - Alpes

o meu caderno de viagens

Pequenos apontamentos rabiscados num caderno de viagem e agora partilhados com os leitores. Os sítios, as gentes, os costumes e as curiosidades observados por quem gosta mais de viajar do que de fazer turismo


Homenagem ao poeta desconhecido

“Budapeste é a mais bela cidade do Danúbio (…) com uma densidade e uma vitalidade que faz frente à sua rival, Viena”, escreveu Cláudio Magris.

Devido à sua história que a liga à capital austríaca ou à geografia que a faz partilhar com a Croácia a grande planície da Panónia, a Hungria parece ser o mais danubieno país da Europa central. Se os rios têm alma, a do Danúbio é, sem dúvida, magiar.

Mais ainda do que a Áustria, tornando-a sombra de si mesmo, a Hungria é, com efeito, impregnada pela civilização danubiana, com sua nostalgia dos tempos passados, anteriores aos tratados de Paz, que celebraram o fim do Império Austrohúngaro e o desmembramento da Hungria.

Foi um húngaro, o barão Miklos Wesselenyi, que imaginou dois dos mais belos sonhos à volta da velha ideia duma federação danubiana: o de uma confederação germano-magiar-eslavo-latina, que enunciou em 1842 e a de uma república federal do Danúbio, aberta a todas as nacionalidades, cuja proposta apresentou em 1949.

A verdadeira amante do Danúbio é a cidade de Budapeste, onde aquele assume o nome de Duna, com quem mantém um casamento tão perfeito como o Sena com Paris. A capital húngara é a única cidade que recebe o Danúbio com todo o seu vigor e nobreza. A única que nele se contempla sem complexos e que lhe oferece pontes com histórias inolvidáveis e cais admiráveis.

Todos os grandes hotéis estão implantados ao longo desta perspectiva fluvial. Mesmo o célebre estabelecimento termal Gellert que prefere colocar as suas cadeiras bem longe das margens do rio não pode evitar de abrir as suas pomposas janelas para este maravilhoso panorama.

A forma de melhor apreciar toda a beleza do Danúbio à passagem por Budapeste é subir até Buda e escolher um dos seus miradouros: a Cidadela, o Castelo ou o inacreditável Bastião dos Pescadores, uma muralha em pedra digna de receber o Romeu e Julieta.

Em Budapeste, o turista, grande consumidor de monumentos, passará por todos os estilos, desde o gótico ao neo-mourisco, mas demorará algum tempo a apreciar o indescritível Parlamento, um autêntico desvario de torres e campanários e um delírio de torreões muito floreados, mesmo à beira do Danúbio.

É necessário observá-lo, pelo menos uma vez, a emergir da bruma matinal para apreciar toda a sua extravagante beleza.

Os viajantes apaixonados e românticos procurarão as margens do rio e a Ilha de Margarida. Preservada ao trânsito automóvel, ela oferece relvados, matas, terraços, piscinas, mas também uma estátua… de um Anónimo, autor da primeira história do país.

Uma cidade capaz de homenagear não o soldado mas o escritor desconhecido, não é uma cidade coma as outras. Talvez seja por isso que foi a única cidade capaz de compreender e de subjugar o rio impetuoso, para merecer a reputação de “rainha do Danúbio”.

sábado, novembro 29, 2003

imagens da minha terra


Pôr-do-Sol na Mata dos Medos


fragmentos para a história da minha terra

Pesquisa e comentários sobre o que foi publicado, no decorrer do tempo, de autores diversos, relevante para a história da Charneca de Caparica


Polca Janota

Na região da Caparica dançava-se o “Tacão e Bico” em tempos passados, hoje somente recordado por escritos, pois os mais velhos já se não lembram de o dançar e, tão pouco, de dele terem ouvido falar.

Era uma dança muito engraçada, viva e ousada, em que os cavalheiros e as damas, ao compasso da música, batem ao mesmo tempo no chão, ora o salto ora a biqueira do sapato ou da bota.

Originária da zona da Caparica, foi levada para terras do Ribatejo, onde hoje é dançada, enquanto por aqui está quase esquecida.

O mesmo sucede com a “Polca”, especialmente, a “Polca Janota” outrora dançada pelos bailadores e bailadeiras de Charneca de Caparica.

Para a dançarem, os bailadores deveriam possuir destreza e preparação física bem desenvolvidas pois era uma dança muito exigente, pela sua vivacidade e expressão corporal.

Ainda há poucos anos sugeri ao Grupo Etnográfico e Musical da Quinta da Morgadinha que fizessem a reconstituição deste dançar, o que muito viria enriquecer o repertório do grupo.

cf. Trajes, Danças e Cantares da Caparica, António Correia, 1972

sexta-feira, novembro 28, 2003

ainda o bastardinho

Degustado à sobremesa, em ambiente acolhedor, acompanhado com um charuto

Robusto da Fábrica de Tabaco Estrella, dos Açores


Sugestão de mestre, claro. Uma partilha amiga do João C. Fernandes, do Fumaças.

o governo sombra da blogoesfera (adufe)

Os comentários semanais do "Professor". Eu professor? Sou um simples aprendiz da Oficina das Ideias


Boa noite, “Professor”!
Boa Noite Amigo! Professor, eu? Eu sou um simples aprendiz desta Oficina…

Vamos então aos comentários sombra semanais...
Bom esta semana o Governo Sombra esteve mesmo na sombra ou então sofreu uma assombração. Na verdade, tal como acontece com os ministros “do real”, mantiveram-se completamente calados, salvo o andamento normal dos seus blogues, ignorando, por completo, o esforço imaginativo do Adufe.

Quase de certeza que a sua posição será completamente diversa quando começar a campanha eleitoral para a eleição dos “melhores blogues portugueses” uma outra extraordinária iniciativa para dignificação da blogoesfera, esta saída do poder imaginativo de Paulo Querido.

Nessa ocasião vamos ver os elementos do Governo Sombra, e não só, a passearem-se por feiras e mercados; a distribuir beijos pelos mais idosos e pelos outros; a fazerem promessas de poderem constituir uma verdadeira elite governativa da blogoesfera.

Sendo assim...
Sendo assim, neste momento há grande poupança de esforços, há um amealhar de recursos a serem usados estrategicamente bem mais perto do tempo eleitoral.

Muito bem “Professor”... e quanto a livros...
Bom... para ter esta mesa de trabalho cheia de livros tive que os comprar. Aproveitei, é verdade, o “dia do aderente” da FNAC, mas tive que desembolsar uns euros importantes. Por isso, não os comento... Mas sempre digo que não percam a Obra Poética Completa, de Sophia de Mello Breyner Andersen, numa edição da Caminho, e cujos primeiros volumes foram hoje postos à venda.

Até para a semana, “professor”.
Até para a semana amigo.

corpo de mulher

Os Seios


Cachos de uva branca, doirada, de tão grande doçura,
Que nascem em teus ombros tão suaves e macios,
São frutos maduros que uma paixão sincera e pura
Deseja colher apreciar amar em lascivos desvarios.

A magia da Natureza esculpiu tamanha obra de arte,
Que representa as mais belas colinas do Universo,
Nelas se espraia a luminosidade do sol de Gaudi que parte
Com destino à sensualidade da mulher que eu verso.

Se flores houvesse que tanta beleza nos oferecessem,
Rosas negras, mamilos de tons que na paleta estão perdidos,
Que o desejo e o muito querer animam e florescem
Para delírio de nossos olhos e de todos os sentidos.

Na praia seriam doiradas dunas, sensuais no sentir,
Onde o mar se espraia e vem beijar com ternura sem fim,
Excitando os amantes que encontram aí o devir
Mesmo quando o pensar diz não, o coração diz sim..

Seios, belos seios de mulher apontam o infinito,
Magníficos de desejo, sensualidade e delicioso sabor,
Que de tão perfeitos, esculpidos por artista que é um mito
Criado pela alegria de viver que nos enchem de amor.



quinta-feira, novembro 27, 2003

vinhos de portugal - notas de prova

Bastardinho de Setúbal, 30 anos

Classificação: Vinho Licoroso
Região: Lavradio, margem Sul do Tejo
Casta: Bastardo (100%)

Prova
Cor: Topázio escuro com laivos encarnados e esverdeados
Aroma: Frutos secos, especiarias e menta
Paladar: acidez notável de frescura esquisita
Final: Muito longo

Deve ser servido à sobremesa; sugiro que acompanhe um charuto (Fumaças)
Temperatura ideal: 16/17 graus C



Nota: Este vinho licoroso é comercializado em garrafas de 500ml sendo a sua produção anual muito reduzida e, unicamente, a partir das reservas existentes. Acontece que a zona, zona de dimensão muito reduzida, onde eram produzidas as uvas da casta Bastardo se encontra totalmente ocupada pelo betão. A especulação imobiliária venceu esta preciosidade para os sentidos.

elmano sadino

Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas


Regresso à vadiagem de Lisboa

Regressado a Lisboa, entrou de novo numa vivência sem eira nem beira, com a família desavinda e dispersa sabe-se lá por onde. È a vida boémia e vadia que o espera. Foi desertor nas Índias e mendigo na China, tendo sido repatriado para Portugal com o estatuto de indigente.

Os amigos estão ávidos pela sua companhia mais pela carga exótica e aventurosa que traz das terras do Oriente do que pelo desejo puro da sua companhia. Contudo, têm que pagar por ele dormida e comida e, especialmente, bebida, muita bebida.

Bocage paga com o improviso e repentismo dos seus poemas, agora burlescos e satíricos, mas sempre de grande qualidade que só bem mais tarde irão ter o devido reconhecimento, pois na altura só justificavam “mais um copo” na esquina da mesa em que se sentava.

Está na forja a Nova Arcádia, constituída por poetas menores que haviam conhecido Bocage noutros tempos. Bocage é convidado a aderir. Na Nova Arcádia Bocage será o Elmano Sadino. Elmano, porque do seu nome próprio (Manuel), troca-se a última sílaba com a primeira (Elmano) e junta-se como segundo nome um adjectivo correspondente à sua cidade natal, Setúbal na foz do Sado (Sadino).


Um tabelião caduco
Com mulher moça casado,
Vai portar no seu estado
Por fé o sinal de cuco:
Como já não deita suco
Por mais que puxe os atilhos,
Não lhe hão de faltar casquilhos
Para a moça amantes novos,
Que lhe vão galando os ovos,
E ele vá criando os filhos.

Ele diz que assim o quer;
Mas de raiva dará pulos,
Vendo que são atos nulos
Os atos que ele fizer;
Sem ter direito à mulher
Que será deste demónio?
Logo então qualquer bolónio
Lhe desmancha o casamento,
Porque não tem instrumento
Com que prove o matrimónio.

Tenha embora muita renda,
Seja lavrador morgado,
Mas para homem casado
Sempre tem pouca fazenda:
É provável se arrependa
A pobre da rapariga,
Que se agatanhe e maldiga,
Quando na noite da boda
Correr a ceara toda,
E não encontrar espiga.


(três das décimas dedicadas a um tabelião velho, que casou com moça nova)

quarta-feira, novembro 26, 2003

mundo cerra fileiras contra a fome

O Brasil, de Lula da Silva, dá o exemplo...

No passado dia 25 de Novembro, a FAO, Organização para a Alimentação e Agricultura, uma agência pertencente às Nações Unidas, publicou o seu relatório anual sobre a fome no Mundo, donde se salienta que esta tragédia mundial se tem vindo a agravar, muito embora os países donos do Mundo continuem a fazer fabulosos gastos com a guerra.

A FAO estima para o período de 1999-2001, a nível mundial, a existência de cerca de 842 milhões de pessoas a viverem abaixo do nível de subsistência, sendo 10 milhões nos países industrializados, 34 milhões nos países em transição (vias de desenvolvimento, como antes se dizia) e 798 milhões nos países subdesenvolvidos.

Somente 19 países conseguiram reduzir com sucesso o número de pessoas com fome, desde 1990, enquanto muitos outros, especialmente na África Central e Ocidental, devido à continuidade dos conflitos no terreno.

O relatório detalha os programas de redução da fome que estão a ser levados a cabo pelo Brasil, Panamá, Quénia e Vietname, sugerindo que sirvam de exemplo a outros países afectados por tamanho flagelo social.

Do Brasil chegam, efectivamente, notícias, plenamente confirmadas pela FAO, de que o Programa FOME ZERO, primeiro compromisso de Luís Lula da Silva quando assumiu a presidência do Brasil, está a atingir resultados importantes. No Estado do Maranhão, uma das regiões onde a fome é mais sentida, está a obter importante êxito a atribuição, por parte do Governo, de senhas de alimentação que somente podem ser trocadas por alimentos de primeira necessidade.

A FAO propõe-se dinamizar a criação de uma Aliança Internacional contra a Fome, no sentido de agrupar vontades governamentais, da sociedade civil, do sector privado, dos especialistas técnicos por forma a reunir meios financeiros necessários a reduzir o número de pessoas com fome, pelo menos para metade, em 2015.

imagens do meu arquivo

Imagens intemporais e cuja localização é irrelevante para o espectador



sabores de valle de rosal

A arte da gastronomia, com recurso a receitas tradicionais, de preferência da região da Costa de Caparica, com o toque pessoal da Maria Teresa. Bom apetite!


Ginja dos Monges do Convento da Rosa

Esta ginja tem como característica própria ser usado o vinho tinto na sua preparação. Os terrenos envolventes da Quinta da Rosa, na Charneca de Caparica, de características arenosas eram ricos em videiras, a partir de cujos frutos se produzia vinho tinto de excelente qualidade.



Ingredientes
1 kg. de ginjas
750 gr. de açúcar amarelo
1 lt. de aguardente
1 lt. de vinho tinto
Pau de canela
Raspa de casca de limão
1 cabeça de cravo da Índia

Preparação
Dissolva o açúcar no vinho tinto. Escolha as ginjas das vermelhas e bem ácidas. Tire-lhes o pé e sem as lavar, apenas as limpe com um pano, deite-as em boa aguardente e no vinho tinto em partes iguais, em frascos de boca larga. Junte uma pau de canela, raspas de limão e uma cabeça de cravo da Índia. Mantenha num lugar fresco, à sombra, 1 ou 2 meses. Vá mexendo uma vez por semana, para evitar que o açúcar se condense no fundo.




terça-feira, novembro 25, 2003

portugal em imagens


Serra da Estrela


quase

Sou sensível à sensibilidade alheia, especialmente, quando é acompanhada duma capacidade grande de indignação contra as injustiças da sociedade actual, que teima em colocar a globalização económica à frente da globalização da solidariedade. Por tudo isso, aqui fica o muito querer da Liliana...

de Luis Fernando Veríssimo

Ainda pior que a convicção do não, a incerteza do talvez é a desilusão de um "quase". É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa bendita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu!!

almada, a terra e as gentes

Uma visão, se possível ilustrada, das gentes e do património natural e construído do Concelho de Almada e do seu Termo


Convento dos Capuchos

A edificação primeira do Convento dos Capuchos data do ano da Graça de 1558, de acordo com a regra da Ordem dos Franciscanos, isto é, construção simples e modesta, para uma comunidade de cerca de 40 frades e relativamente isolado das povoações mais próximas.

Situa-se na freguesia da Caparica e evoca Nossa Senhora da Piedade e foi buscar a sua designação ao facto dos frades franciscanos vestirem de burel com capucho alongado e levarem uma vida sem ostentação e alimentação muito frugal.

O edifício tem uma fachada com triplo pórtico de colunas simples, com arco ao centro e grades, que dá acesso à Igreja onde, ao fundo, existem dois painéis de azulejos representando os sermões de Sto. António e que substituem as degradadas pinturas que aí existiam.

Apresenta à esquerda o escudo dos Távoras, evocação a Lourenço Pires de Távora, originário de Almada, que tendo viajado pelo Mundo e distinguindo-se na diplomacia e nas armas, o mandou construir.

À direita a fachada do Convento apresenta o símbolo da ordem franciscana, que sempre viveram na pobreza, segundo a ideologia de S. Francisco de Assis, recorrendo às dádivas dos donos das quintas das redondezas e do privilégio de se abastecerem de lenha nos pinhais reais da Caparica, uma concessão do próprio rei D. Sebastião.



Em 1630, o Convento sofre obras de ampliação e beneficiação. Em 1755, é severamente afectado pelos efeitos do terramoto. Em 1834, quando foram extintas as ordens religiosas fica sob a tutela do Juiz do Povo da Caparica. Em 1950, depois de sofrer diversas vicissitudes de transmissão de posse encontra-se completamente destruído.

A essa data, a Câmara Municipal de Almada adquire o edifício e procede a profundas obras de recuperação. Novas intervenções nos anos 60 e 70 do século passado descaracterizam completamente o edifício.

Nos anos 2000/2001, no Convento dos Capuchos é efectuada importante obra de restauro e reabilitação, sendo hoje um imóvel, que respeitando o traço original, se encontra equipado com as mais modernas infra-estruturas especialmente vocacionado para a música, donde se destaca o Festival de Música dos Capuchos, com grande aceitação nacional e internacional.

Uma visita resulta numa lufada de cultura e saber, não olvidando os seus jardins donde se desfruta uma das mais belas panorâmicas da chamada “boca do Tejo”, Cascais, Lisboa, Costa de Caparica e, ainda, uma ampla visão da serra de Sintra e do Cabo Espichel.

segunda-feira, novembro 24, 2003

uma flor para Cecília


salvé 23 de Novembro - mil felicidades



do fundo do baú das memórias

Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos


O início de uma paixão

Passados dois ou três anos a viverem em comum na mesma casa, meus pais e meus tios, que assim partilhavam a dificuldade de pagarem a renda da casa, decidiram individualizar a sua vivência. Neste espaço de tempo cada casal tinha já o seu rebento, eu e o meu primo Carlos.

Nós continuámos a viver na casa onde havia nascido, na Avenida da República, na Amadora, paredes meias com o quarto de minha avó materna, quarto que lhe cabia por ser porteira do prédio.

Famílias chegadas que éramos muitas vezes ia para casa dos meus tios, do outro lado da linha do combóio, onde brincava na rua com meu primo e outros miúdos da zona. Perto residia o Senhor Fernando, fotógrafo emérito e funcionário de uma importante casa de fotografia de Lisboa. Prolongava para sua casa o trabalho laboratorial que realizava na casa de fotografia em Lisboa. Eu passava horas de encantamento com o seu trabalho.

Meu apego à fotografia era tanto que minha mãe retirou das suas parcas poupanças uns escudos com os quais compro e me ofereceu no Natal uma pequena câmara fotográfica, muito simples, construída em plástico e com uma minúscula lente. Aliás, toda a câmara caberia na palma da mão de um adulto.

Para mim foi o deslumbramento. Foi também o início de uma paixão que dura há cerca de cinquenta anos. Teria, então, oito anos de idade.

domingo, novembro 23, 2003

imagens de viagem

Balaton - Keszthly



o meu caderno de viagens

Pequenos apontamentos rabiscados num caderno de viagem e agora partilhados com os leitores. Os sítios, as gentes, os costumes e as curiosidades observados por quem gosta mais de viajar do que de fazer turismo


O Jantar no Apoteke

A viagem de autocarro, entre Budapeste e Keszthely, junto às margens do Lago Balaton, realizou-se ao fim da tarde, após a chegada dos restantes companheiros da jornada, vindos dos mais diversos países da Europa. O percurso feito na sua quase totalidade em auto-estrada decorreu de forma agradável, com uma paragem para café e desentorpecimento de pernas numa área de serviço perto de Siófok.

Chegados a Keszthely já noite cerrada houve que proceder à nossa instalação no hotel, um autêntico palácio que havia sido adaptado à indústria hoteleira e à realização de grandes eventos, de um modo geral com o patrocínio governamental. Depois... procurar onde jantar que a hora já se fazia tardia e nada conhecíamos desta pacata cidade, especialmente, na época outonal, que era o caso.

O nosso grupo, nove pessoas, nós próprios, mais três casais vindos da Catalunha e o sempre solteiro e bem disposto Vicent, lá partiu à descoberta de um local onde jantar. Algo típico, foi a opinião da maioria. O restaurante Apoteke (farmácia) foi o escolhido.

Entrámos, no que mais parecia uma caverna talhada em bruto na pedra. Excelente decoração e ambiente. Éramos os únicos clientes, pata um único empregado, mais as gentes da cozinha.

Nós constituíamos uma equipa poliglota. Falávamos português, castelhano, catalão, francês, inglês e, até, alemão. O empregado somente húngaro. A lista estava escrita unicamente em húngaro. Por sinais nos entendíamos. Mas nada mais. Que escolher para a tão desejada refeição.

Uma ideia peregrina, digna desta Oficina, digo eu. Vamos encomendar “um de cada da lista”. E assim foi. Devem calcular as surpresas que tivemos. O quanto a nossa experiência gastronómica aumentou. Foi um jantar inesquecível.

Uma nota final. No meio de tantas especialidades húngaras, de tantos molhos e condimentos esquisitos, a diversos milhares de quilómetros de Portugal, o meu olhar foi atraído para um pequeno frasco amarelo de tampa vermelha: mostarda Savora, fabricado em Loures, Portugal.

sábado, novembro 22, 2003

imagens da minha terra


Cruzeiro de Vale de Rosal


fragmentos para a história da minha terra

Pesquisa e comentários sobre o que foi publicado, no decorrer do tempo, de autores diversos, relevante para a história da Charneca de Caparica


Pedro Barriga

Foi guarda-mor da Casa da Moeda, tendo servido em África durante longos anos. Era filho de Lopo Barriga, adail da Praça de Safim, e de D. Joana d'Eça e fora casado com D. Margarida Landim da Maia, a qual, depois de viúva, vendeu aos padres da Companhia de Jesus do Colégio de Santo Antão de Lisboa umas terras de mato que possuía na Charneca de Caparica, designadas por "Pico dos Cardos".

Os compradores edificaram ali uma casa para retiros espirituais e transformaram o solo em terras de semeadura, vinhos, pomares e jardins, em que predominavam as rosas, pelo que lhe deram o nome de Quinta do Vale de Rosal.


A cerca de um quilómetro para o lado de Nordeste da referida propriedade, existem umas terras ainda hoje designadas pelo sítio da Barriga, muito possivelmente por terem pertencido à família de Pedro Barriga.

cf. Caparica Através Dos Séculos, Conde dos Arcos, 1972, pág. 132

no país das amplas liberdades

A Universidade Estatal de Sonoma, na Califórnia, divulgou o seu ranking anual dos 25 temas mais censurados no último ano pela grande imprensa norte-americana. Intitulado Projecto Censura 2004, o estudo de 400 páginas inclui análises académicas sobre o comportamento e as tendências dos meios de comunicações nos EUA.

Os vinte e cinco temas tabu são os seguintes:

Segurança nacional versus direitos humanos e civis nos EUA;
EUA suprime ilegalmente páginas de informe sobre o Iraque;
Os planos de Rumsfeld para provocar os terroristas;
Esforços para fazer os sindicatos desaparecerem;
Acesso cada vez mais restrito à tecnologia de informação;
EUA violam numerosos tratados internacionais;
Bush utilizou armas de destruição em massa contra seu próprio povo;
No Afeganistão, EUA priorizam financiamento de grupos paramilitares à “fundação da democracia”;
O novo colonialismo na África;
EUA implicado no massacre de talibãs;
Governo Bush esteve por trás do fracassado golpe militar na Venezuela;
Desafios da personalidade oculta das corporações;
Os refugiados indesejados: um problema global;
O Exército dos EUA está em guerra contra o planeta;
O Plano Puebla-Panamá e a ALCA;
O monopólio de emissoras de rádio do Clear Channel atrai críticas;
A reforma florestal ameaça o acesso aos bosques públicos;
Dólar versus euro, outra razão para a invasão do Iraque;
Pentágono incrementa contratos militares com empresas privadas;
Políticas de austeridade para o Terceiro Mundo: logo chegam a uma cidade perto de você;
A reforma da assistência social não preservou rede de segurança social;
A crise da Argentina alimenta o crescimento do cooperativismo;
Ajuda dos EUA a Israel alimenta ocupação repressiva na Palestina;
Corporações condenadas recebem favores ao invés de castigos.


Assim vai a democracia no país das amplas liberdades.

sexta-feira, novembro 21, 2003

o governo sombra da blogoesfera (adufe)

Os comentários semanais do "Professor". Eu professor? Sou um simples aprendiz da Oficina das Ideias


Boa noite, “Professor”!
Boa Noite Amigo! Professor, eu? Eu sou um simples aprendiz desta Oficina…

Vamos então aos comentários sombra semanais...
Claro que sim... e esta semana foi bem agitada! Então, não é que o Ministro Sombra da Economia se demitiu? Também com os secretários de estado em que ele se apoiou outra coisa não seria de esperar. Mas o que é mais grave é o facto do Ministro da Economia além de ter pedido a demissão ter FUGIDO. É como o outro diz... só Lérias.

Quanto aos secretários de estado o Ocidental Praia nomeado para a pasta do Turismo teve o desplante de afirmar que “tinha sido um erro de casting...”. Os “outros” têm aceite os lugares e lá nos continuam a governar, perdão, lá se continuam a governar

Ó “Professor” deixe-me fazer o contraponto...
O secretário de estado para a Táctica e a Estratégia refugiou-se lá para a Amazónia e continua na sua árdua tarefa de transcrever poemas de célebres e celebrados poetas...

E o da Indústria Comércio e...
Bem esse é realmente uma pena não ser aproveitado para o Governo Sombra mas lá continua preocupado com os fios dentais... ahahah...

Então e agora “Professor”?
Professor, eu? Eu sou um simples aprendiz desta Oficina.... Bem, julgo que o Adufe, responsável por esta “embrulhada” deveria proceder à nomeação de uma mulher para a pasta da Economia... eu sei lá... alguém 100Nada para se poder encher... os negócios das celuloses, das petrolíferas, das comunicações, da terceira geração estão à porta...

Então, e quanto aos livros?
Bom... as editoras ainda não descobriram quão importantes são as minhas recomendações... O Povo ouve-me e acredita em mim, mais do que no Abrupto e, além do mais, os políticos temem-me... Buuuuu!

corpo de mulher

Os Lábios

Lábios sensuais que sorriem o sentir da tua alma
Vermelhos carmim de beleza e esplendor sem igual
Promessas de infindáveis carícias que a tormenta acalma
Asas de um sonho, sonho tão próximo que parece ser real.

Lábios que contam ao sorrir o que a mente quer esconder
Espelhos de profundos pensamentos, de são caminhar
Na vida que constróis com tua inteligência e saber
São guias de teu caminho no rumo do sentir e do pensar

Morangos maduros, dulcíssimos, aveludados na carícia
Dizem ternas palavras e murmuram sons de amor
Brilham como sois no firmamento do devir, qual delícia
Tamanho encantamento que me extasia com seu esplendor.

As pétalas das mais belas rosas do meu jardim
Juntaram-se em harmonia para desenhar tão bela boca
Criaram no Mundo nova maravilha de cor carmim
Obra de artista de poeta fértil imaginação algo louca.

Nas asas de um estorninho voei lonjuras imensas
Para me aproximar de linda boca belos lábios
Fiquei maravilhado preso a sensações intensas
Que me tornei um sábio entre os maiores sábios



quinta-feira, novembro 20, 2003

vinhos de portugal - notas de prova

ALBIS, branco 2002

Classificação: Vinho Regional Terras do Sado
Região: Península de Setúbal
Castas: Arinto (15%); Moscatel de Setúbal (85%)

Prova
Cor: Citrino esverdeado
Aroma: Toranja, ananás, lima
Paladar: Frutado, equilibrado e suave
Final: Médio

Pratos com os quais deve ser servido: Como aperitivo e acompanhando peixe e marisco; vai muito bem com Amêijoas à Bulhão Pato
Temperatura ideal: 13 graus C



Um pouco da sua história: O primeiro ano de produção desta marca remonta a 1991, com o intuito de produzir um vinho com uma forte componente Moscatel, mas sem açúcar residual. Para equilibrar a falta de acidez no vinho, foi delineado um lote com Arinto.

A prova deste vinho foi integrada numa degustação de 3 brancos, 1 branco doce e 4 tintos soberanamente conduzida por Sérgio Marques.

imagens da nossa costa


S. Pedro de Moel


o governo sombra da blogoesfera (adufe)

Os comentários semanais do "Professor". Eu professor? Sou um simples aprendiz da Oficina das Ideias

Por motivos de AGENDA o "Professor" apresentará os seus comentários, neste espaço, todas as sextas-feiras.

elmano sadino

Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas


Por terras do Extremo Oriente

Na sua estadia pelas terras do oriente, Manuel Maria, não se limitou a espalhar a sua excentricidade pelas terras da Índia. Viveu tempos de glória e de desgostos em Goa e em Damão, onde amou com violentas paixões e onde “chorou” uma verdadeira “dor de corno” quando soube que a condessa de Montaiguy o trocara pelos braços, e não só, de um preto atlético.

A China misteriosa atraiu Bocage para alívio dos seus desgostos. Sem o apostolado de S. Francisco Xavier mas com a força da sua poesia. Triste e sem ilusões de vida lá rumou até Macau. Quando chega a Macau não passa de um mendigo, também mendigo de amores, desertor da Marinha e sem comer para matar a fome.

A distância da capital do reino, os usos e costumes tão diversos da Europa, a completa desorganização da estrutura colonial permitiam situações como a que aconteceu a Bocage. Desertor das índias foi recebido e acolhido na colónia do Extremo Orient6e.

O desembargador Lázaro Ferreira em boa hora lhe estendeu a mão dando-lhe finalmente alguma paz que a carreira militar nunca lhe concedera.

Tendo conseguido juntar algum dinheiro resolve regressar a Lisboa. Fê-lo na companhia de outros aventureiros que faziam a rota do Oriente, por gosto ou desfastio, tendo muito conversado com William Beckford que comentou sobre Bocage ser alguém singular e de grande excentricidade, mas que quando recita a sua verdadeira poesia o faz com profundidade e saber.

Aquela, que na esfera luminosa
Procedendo a manhã, qual astro brilha,
Mãe dos Amores, da espuma filha,
Que o mar na concha azul passeia airosa;

Apenas viu sorrir Nise formosa,
A quem dos corações o deus se humilha,
Do cinto desatado a áurea presilha,
No regaço lho pôs, leda, e mimosa.

Não te é (lhe diz) bem sei, não te é preciso;
Para atrair vontades à ternura
Basta-me um gesto, basta-me um sorriso;

Mas deves, possuí-lo, ó Ninfa pura,
Como trofeu, que dê ao Mundo aviso
De que Vénus te cede em formosura.



Bibliografia:
Poesias Eróticas Burlescas e Satíricas, M. M. Barbosa do Bocage, Editora Escriba, 1969
Sonetos, Bocage, Clássica Editora, 1961

quarta-feira, novembro 19, 2003

imagens do meu arquivo

Imagens intemporais e cuja localização é irrelevante para o espectador



Sniff


sabores de valle de rosal

A arte da gastronomia, com recurso a receitas tradicionais, de preferência da região da Costa de Caparica, com o toque pessoal da Maria Teresa. Bom apetite!


Amêijoas à Bulhão Pato

Ingredientes
1kg. de amêijoas
½ dl. de azeite
4 dentes de alho
1 c. sobremesa de mostarda
pimenta
1 ramo de coentros
farinha Maizena
1 limão



Preparação
Ponha as amêijoas num recipiente, cubra-as com água fria e deite um pouco de sal. Deixe-as estar assim durante algumas horas para perderem a areia.



Leve o azeite ao lume num tacho com os alhos esmagados. Quando o alho estiver louro, retire o tacho do lume deite as amêijoas previamente lavadas em água fria, a mostarda, a pimenta e o ramo de coentros. Tape o tacho e volta ao lume. Depois das amêijoas abrirem engrosse o molho a gosto com farinha Maizena. Sirva-as polvilhadas com coentros picados e decoradas com gomos de limão.



Nota: recomendo que estas deliciosas amêijoas sejam acompanhadas por vinho Albis, branco 2002 (Vinho Regional Terras do Sado) do qual amanhã publicaremos a respectiva nota de prova.


terça-feira, novembro 18, 2003

portugal em imagens


Porto Dinheiro - Lourinhã


almada, a terra e as gentes

Uma visão, se possível ilustrada, das gentes e do património natural e construído do Concelho de Almada e do seu Termo


Solar dos Zagallos

O Solar dos Zagallos, também conhecido por Quinta dos Pianos, que foi originariamente uma casa agrícola, é uma casa apalaçada de primeiro andar com pátio de entrada com portão de ferro, escadaria de acesso aos dois salões nobres (construídos com a intenção de aí ser recebido o rei D. João VI, visita que nunca chegou a realizar-se) e anexos vários. Inclui-se nesta magnífica propriedade, construída no século XVI, uma alameda de rara beleza.

Situa-se na povoação de Sobreda, à época uma das terras fidalgas da Caparica, embora no século passado não tivesse mais de 150 fogos.

Os proprietários foram os Zagallos, família oriunda de Reguengos de Monsaraz, que chegaram à Caparica no reinado de D. João II. Em 1745, o desembargador Rodrigo de Oliveira Zagallo instituiu um morgado na Sobreda.

O edifício e anexos sofreram diversas intervenções nos séculos XVIII, XIX e XX e conserva das diversas épocas azulejos, estuques e pinturas. O Solar possui três capelas, duas das quais nos jardins. A que se encontra integrada no corpo do edifício, a de Stº. António, tem ricas talhas e é forrada a azulejos representando cenas religiosas e profanas.



O Solar dos Zagallos é, hoje em dia, propriedade da Câmara Municipal de Almada, tendo sido objecto de uma profunda intervenção, visando a sua recuperação e preservação, donde resultou uma interessante peça do equipamento cultural do Município.

segunda-feira, novembro 17, 2003

uma flor para cathy



do fundo do baú das memórias

Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos



A "Boneca"

Naqueles anos do pós-guerra Portugal vivia em grande penúria, pois embora não tivesse tido custos do empenhamento militar, também não tivera qualquer capacidade de desenvolvimento, isolado por vontade dos seus governantes no extremo ocidental da Europa.

As famílias recorriam com grande frequência a alguma auto-suficiência para poderem subsistir numa época de grande carência e de racionamento dos bens de consumo essenciais. Era então, frequente os quintais dos rés-do-chão e das caves dos prédios serem reservados para uma pequena horta e para a criação de galinhas e coelhos que ajudavam a compor a dieta alimentar da família.

Aconteceu um dia meu pai ter resolvido comprar uma cabra recém-nascida para ser alimentada em casa e nos campos, amplos campos que existiam antes da minha terra se transformar numa imensa cidade de betão.

De cabrinha muito pequena e brincalhona foi-se transformando numa enorme cabra adulta e cheia de força. Das brincadeiras que tinha comigo, sempre me derrubando, passou a marrar-me com força pois como é normal ela cresceu muito mais rapidamente do que eu.

Além do mais, chegou a altura de ela cumprir a missão para que foi comprada pelo meu pai e alimentada durante alguns meses. Iria ser sacrificada para alimentação da família durante alguns tempos. Foi levada para o matadouro e entregue ao talhante que iria preparar devidamente sua carne para alimentação.

Foi o drama. Chorei, revoltei-me contra o que haviam feito à “Boneca”, era esse o seu nome, neguei-me a comer daquela carne. Toda a família seguiu o meu sentir. O meu pai deu a totalidade da carne criada com tanto sacrifício aos amigos e familiares.

Foram mais alguns tempos de penúria alimentar, mas era impossível seguir outro caminho.

domingo, novembro 16, 2003

imagens de viagem

Londres - Regent Street



o meu caderno de viagens

Pequenos apontamentos rabiscados num caderno de viagem e agora partilhados com os leitores. Os sítios, as gentes, os costumes e as curiosidades observados por quem gosta mais de viajar do que de fazer turismo


Alarme em Park Lane

A conferência acabara mais cedo e eu, acompanhado do meu colega português no evento, percorri lentamente a Piccadilly Street, que já se chamou Portugal Street, paralela ao Green Park, vindos do Hilton Park Lane Hotel, na direcção de Piccadilly Circus. Onde vamos? Onde não vamos? Lá nos dirigimos para o Hamlays, o maior armazém de brinquedos de Londres, sete andares de perfeito encantamento para os mais novos.

Sempre havia a desculpa do Rogério de ir comprar uma lembrança para o filho, mas o que ele ia à procura era de umas cópias perfeitíssimas de armas, pistolas, metralhadoras e outras de que quer ele, quer seu pai, eram empenhados coleccionadores.

Deliciámo-nos com os maravilhosos brinquedos que ali se mostravam em todo o seu esplendor. Como é que as crianças lhes poderiam resistir? No quinto andar, efectivo objectivo da digressão, lá encontrámos uma cópia fiel da metralhadora “não sei quantos”, que nisso o especialista é o meu amigo Rogério. Utilizava como munições pequeninas esferas de plástico.

Regresso ao hotel. Eu segui para o meu quarto no 12º andar, o Rogério para o seu, no 17º. Não tardou 10 minutos. Pela aparelhagem sonora, da música ambiente dos quartos, surgiu o alerta. “Atention, atention, emergency1” E lá vinham as recomendações do costume no mais puro inglês e que aqui apresento em tradução livre. “Foi detectada uma situação de incêndio, no hotel”. “Não se alarmem, mas não utilizem os elevadores”. “Queiram abandonar os vossos quartos com os valores, com toda a calma!”.

Em simultâneo mais dois acontecimentos. Doze andares abaixo do meu quarto, à praça fronteira ao hotel, chegavam três carros de fogo dos bombeiros, um carro de intervenção rápida, uma escada Magirus e um carro de fogo artilhado com duas ou três agulhetas. Aparato policial. Bombeiros.

Por outro lado toca o telefone. Era o Rogério. “Não te alarmes... Podemos descer pelo elevador... Espera-me a porta do elevador no teu andar que vou já descer”.

Saímos de “fininho” apanhámos um taxi, daqueles bem característicos de Londres e fomos até Picadilly Circus, rumo ao Soho, claro.

Em resumo: O Rogério chegara ao quarto, fora experimentar a metralhadora, que por azar ou pontaria rebentou com a ampola existente no tecto para detecção de incêndios. Regressámos mais tarde. Tudo calmo!

Resta acrescentar que o Hotel Hilton Park Lane era um dos hotéis normalmente utilizado pela malograda Lady Di para dar as suas recepções. Fica ali bem perto do Hyde Park, precisamente na zona designada Park Lane.


sábado, novembro 15, 2003

fragmentos para a história da minha terra

O Cruzeiro de Vale de Rosal

No Vale Rosal um singelo cruzeiro de 1659 assinala o local onde o Beato Inácio de Azevedo preparou para o martírio, ocorrido nas mãos de calvinistas franceses em 1570 e 1571, os seus 61 companheiros jesuítas, quase todos jovens, destinados a evangelizar o Brasil, e dos quais 39 já se encontram beatificados.



A igreja elevou à honra dos altares quarenta religiosos da Companhia de Jesus (trinta e dois portugueses e os oito restantes espanhóis) que fizeram um longo retiro na Quinta do Vale de Rosal, em Caparica, e que, em 15 de Junho de 1570, quando seguiam viagem para as missões no Brasil, foram assaltados e massacrados no mar alto, próximo das Ilhas Canárias, pelos corsários calvinistas. Desde então, e por algum tempo, a propriedade do Vale de Rosal mudou o nome para Quinta dos Quarenta Mártires, erigindo-se ali um cruzeiro com uma inscrição gravada na base, em memória desses servos de Deus.

Os nossos compatriotas eram os que vão na relação que segue:
Beato Inácio de Azevedo, presbítero, nascido no Porto, em 1527.
Beato Aleixo Delgado, noviço natural de Elvas.
Beato Álvaro Mendes, estudante, natural de Elvas.
Beato Amaro Vaz, irmão-coadjutor, natural do Porto.
Beato André Gonçalves, estudante, natural de Viana do Alentejo.
Beato António Correia, noviço, natural do Porto.
Beato António Fernandes, irmão-coadjutor, natural de Montemor-o-Novo.
Beato António Soares, estudante, natural de Trancoso.
Beato Bento de Castro, estudante, natural de Chacim.
Beato Brás Ribeiro, irmão-coadjutor, natural de Braga.
Beato Diogo de Andrade, presbítero, natural de Pedrógão.
Beato Diogo Pires, noviço, natural de Nisa.(a)
Beato Domingos Fernandes, irmão-coadjutor, natural de Borba.
Beato Francisco Álvares, irmão-coadjutor, natural da Covilhã.
Beato Francisco de Magalhães, estudante, natural de Alcácer do Sal.
Beato Gaspar Álvares, irmão-coadjutor, natural do Porto.
Beato Gonçalo Henriques, noviço, natural do Porto.
Beato João Adauto, estudante, natural do Minho.
Beato João Fernandes, irmão-coadjutor, natural de Braga.
Beato João Fernandes, estudante, natural de Lisboa.
Beato Luís Correia, estudante, natural de Évora.
Beato Luís Rodrigues, estudante, natural de Évora.
Beato Manuel Álvares, irmão-coadjutor, natural de Estremoz.
Beato Manuel Fernandes, estudante, natural de Celorico da Beira.
Beato Manuel Pacheco, estudante, natural de Ceuta.
Beato Manuel Rodrigues, estudante, natural de Alcochete.
Beato Marcos Caldeira, noviço, natural de Vila da Feira.
Beato Nicolau Diniz, noviço, natural de Bragança.
Beato Pedro Fontoura, irmão-coadjutor, natural de Braga.
Beato Pedro Nunes, estudante, natural de Fronteira.
Beato Simão da Costa, irmão-coadjutor, natural do Porto.
Beato Simão Lopes, estudante, natural de Ourém.

Eis agora os nomes dos de nacionalidade espanhola:

Beato Álvaro Baena, irmão-coadjutor, natural de Villatobos.
Beato Estêvão Zurara, irmão-coadjutor, natural de Biscaia.
Beato Fernão Sanches, estudante, natural de Castela a Velha.
Beato Francisco Perez Godoy, estudante, natural de Torrijos.
Beato Gregório Escribano, irmão-coadjutor, natural de Logronho.
Beato João Mayorca, irmão-coadjutor, natural de S. Jean P. Port.
Beato João de S. Martin, estudante, natural de Yuncos.
Beato João de Safra, irmão-coadjutor, natural de Jerez de Bad.



(a) O Beato Diogo Pires era conterrâneo do saudoso prior Padre Baltasar Dinis de Carvalho, de quem, a propósito, transcrevemos o trecho de uma carta sobre o assunto escrita em 25 de Junho de 1939, em que diz:

"...no Vale de Rosal, d'esta Freguesia, entre os companheiros do Beato Inácio de Azevedo, esteve por bastante tempo um respeitável filho da minha terra natal, Nisa, e que se chamou Diogo Pires, martirizado com 39 companheiros. Soube-o à minha entrada em Caparica e fui logo nos primeiros dias em romagem piedosa a Vale de Rosal, onde viveu o meu santo conterrâneo, local que em 1910 uns desvairados reduziram a um montão de ruínas, esquecidos de tantas benemerências que ali se praticaram. Fui e ajoelhei naqueles escombros (hoje reparados) com o maior respeito e piedade, e pedi à alma do Mártir a sua intercessão valiosa junto de Deus pela sua e minha terra natal e por esta de Caparica a que me acolhi como seu humilde e indigno pastor. Mais um laço de afecto a prender-me a Caparica que tanto desejo ver próspera, respeitada e digna...".

cf. Caparica Através Dos Séculos, Conde dos Arcos, 1972, págs. 137, 138 e 139

sexta-feira, novembro 14, 2003

imagens da minha terra


Sereia - Almada Fórum


ao vivo

Phantom Vision

Sábado, 15 de Novembro de 2003, às 22:00 horas
na Caixa Económica Operária - Lisboa



corpo de mulher

Os Cabelos

Teus cabelos muito loiros seara de trigo ao vento
Esvoaçam imaginação de liberdade sem fim
Raios do meu sentir e do meu encantamento
São mais belos do que imagens de oiro e marfim

A cálida brisa do entardecer agita teus cabelos
Acaricia teu corpo cheio de sensualidade e sentir
Vislumbras quem assim te aprecia atentamente
Voar um sonho que é um feliz futuro e é devir

O doirado de teus cabelos é sem dúvida natural
Guardas prova com carinho no íntimo do teu ser
São frutos de uma mina de precioso metal
Que espírito e mãos de artista um dia hão-de ter

Tens cabelos que emolduram um rosto divinal
De linhas tão perfeitas que o mestre artista cinzelou
Tua expressão é terna é carinhosa é angelical
O delírio de bela imagem ao infinito me levou

O cair suave dos cabelos sobre teus ombros tão belos
Mais parece uma cachoeira de água límpida transparente
Em requebros angelicais e maneios suaves e singelos
És no Mundo a mulher mais bela doce e atraente




quinta-feira, novembro 13, 2003

vinhos de portugal - notas de prova

QUINTA DE CAMARATE, branco seco 2002

Classificação: Vinho Regional Terras do Sado
Região: Península de Setúbal
Castas: Moscatel Setúbal, 63,5%; Loureiro, 7,5%; Alvarinho, 29%

Prova
Cor: Amarelo esverdeado
Aroma: Lichias, manga e floral
Paladar: Frutado, fino com acidez correcta
Final: Médio

Pratos com os quais deve ser servido: Peixe e marisco; muito bem com o Arroz de Tamboril
Temperatura ideal: 12-13 graus C



Um pouco da sua história: Situada em Azeitão, perto de Setúbal, a Quinta de Camarate foi adquirida por António Soares Franco Jr. em 1914 e é hoje propriedade dos irmãos António e Domingos Soares Franco, os donos da José Maria da Fonseca. Esta quinta tem uma área de 110 ha, 50 dos quais estão cobertos com vinhas. A restante parte é utilizada para pasto das ovelhas que dão origem ao famoso queijo de Azeitão, neste caso, Artesanal da Quinta de Camarate.

A prova deste vinho foi integrada numa degustação de 3 brancos, 1 branco doce e 4 tintos soberanamente conduzida por Sérgio Marques.

Preço indicativo: €5,5 no Jumbo Almada Fórum

imagens da nossa costa


Praia das Bicas - Meco

governo sombra da blogoesfera (adufe)

No passado dia 10 de Novembro, após um delicioso repasto, o Rui, do Adufe, decidiu-se pela criação de um Governo Sombra da Blogoesfera, por forma a estarmos preparados para uma tomada do poder, por forma a pôr cobro a esta caminhada para o abismo, em que todos os dias um passo mais é dado.

Assim escreveu o Rui: “ocorreu-me a ideia de arranjar um governo sombra na blogoesfera. Um governo em que os ministros são blogues e não necessariamente pessoas singulares. Sempre é um bocadinho diferente de dar prémios e até dá algum gozo”.

Vai daí cria uma completa estrutura do poder, com Presidente da República e tudo, tendo-me nomeado “o personagem que todos os governantes temem...”

O que é que o Vicktor, do Oficina das Ideias, tem? “Temido pelos políticos, é a voz mais influente de Valle do Rosal”. E vai de me chamar “Professor”. Respondo eu: - Professor, eu? Um eterno aprendiz duma Oficina onde as Ideias são muito suadas.

Semanalmente, todas as quintas-feiras, aqui teremos os meus comentários e a recomendação de leituras.

Vá editoras... comecem a enviar os livros...

elmano sadino

Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas.


Vida dissoluta

A vida de Bocage nas terras do longe, nas Índias em decadência, tornou-se numa sucessão de orgias como contraponto a uma existência de tédio por que passava uma guarnição de Portugal em tão remotas paragens.

Andou de regaço em regaço das belas goesas enquanto ia captando as simpatias do Governador que lhe garantiu uma promoção a tenente de infantaria, tendo sido enviado para Damão. Tal promoção e tal movimento na sua colocação não seria alheio o desejo do Governador de “o ver pelas costas”.

Uma mulher muito bela e não menos leviana e arisca atravessou-se no seu caminho, o que não seria difícil para quem sempre procurava esses cruzamentos. Ana de Montaiguy, filha de um francês e de uma mestiça, ardente e sensual, de traição em traição, caiu nos braços de Bocage.

A inspiração de Bocage atingiu o auge, desfazendo-se em sonetos e madrigais.

Coisa de pouca dura, pois a quente Ana logo o trocou por um negro famoso pela sua envergadura. Bocage perdeu-se na sua indignação e vergonha.

Não lamentes, Alcino, o teu estado,
Corno tem sido muita gente boa;
Corníssimos fidalgos tem Lisboa,
Milhões de vezes cornos tem reinado.

Siqueu foi corno, e corno de um soldado:
Marco António por corno perdeu a c’roa;
Anfitrião com toda a sua proa
Na Fábula não passa por honrado;

Um rei Fernando foi cabrão famoso
(Segundo a antiga letra da gazeta)
E entre mil cornos expirou vaidoso;

Tudo no mundo é sujeito à greta:
Não fiques mais, Alcino, duvidoso
Que isto de ser corno é tudo peta.


quarta-feira, novembro 12, 2003

mercenários

Já lá vão algumas dezenas de anos. Numa época em que o mercado da banda desenhada ainda não tinha sido invadido e destruído pelos castrantes livros de Disney e seus assessores, lia-se em Portugal O Mundo de Aventura, O Faísca, O Cavaleiro Andante, onde publicavam obras clássicas desenhadas em banda com origem em diversos países da Europa e até mesmo em Portugal.

Era a época do Marca Amarela, do Mandraque, do Tim Tim e de tantos outros heróis da BD. Recordo-me de uma série que se intitulava, salvo erro, Beau Gest, e descrevia as aventuras dos franceses e de homens de diversas nacionalidades em guerras nas terras de África. Era dado, como seria de esperar na época, um tratamento aventuroso e romântico.

Passados alguns anos conheci pessoalmente um português que fazia parte da designada Legião Estrangeira. Era um profissional da guerra. Gostava do que fazia. Onde andariam os sentimentos desse homem que em miúdo tinha brincado na rua com meu Pai?

Pertencia à Legião Estrangeira. Era elemento do Beau Gest. Era voluntário. Era, fundamentalmente, um mercenário.

Partem hoje para o Iraque cerca de 130 homens que voluntariamente vão dar cumprimento a uma decisão do governo de Portugal.

São mercenários.

sabores de valle de rosal

A arte da gastronomia, com recurso a receitas tradicionais, de preferência da região da Costa de Caparica, com o toque pessoal da Maria Teresa. Bom apetite!


Arroz de tamboril com camarão e amêijoas

Ingredientes (para 4 pessoas)
1,250 kg. de tamboril
500 gr. de camarões 80/100
500 gr. amêijoas de mergulho
400 gr. arroz agulha
2 cebolas
3 cravinhos
1 tronco de aipo
1 ramo de salsa
3 dentes de alho
Mistura de pimentas em grão
1 folha de louro
Azeite
2 tomates
4 c.s. polpa de tomate
2 dl. de vinho branco
1 ramo de coentros



Preparação
1. Colocar as amêijoas em água e sal durante 2 horas no frigorífico para perderem a areia, embora, a amêijoa de mergulho a tenha em reduzida quantidade.
2. Despelar o tamboril e cozer juntamente com uma cebola com três cravinhos espetados, um tronco de aipo, um ramo de salsa, dois dentes de alho e mistura de pimentas em grão. Coar o caldo da cozedura (caldo aromático) num pano fino e reservar. Cortar o tamboril, sem pele e sem espinhas, em cubos.
3. No tacho de fundo térmico juntar 1 cebola cortada em fatias, um alho, uma folha de louro e azeite. Deixar aloirar a cebola e juntar dois tomates picados e 4 c.s. de polpa de tomate. Voltar ao lume. Juntar 2 dl. de vinho branco e voltar ao lume para completar o refogado.
4. Juntar o caldo aromático e acrescentar água para perfazer 4 porções de caldo por cada de arroz. Deixar ferver.
5. Juntar o arroz e deixar cozer durante 4 a 5 minutos. Juntar o tamboril e as amêijoas e deixar estas últimas abrirem.
6. Juntar os camarões e deixar cozer durante mais 2 minutos. Ainda a ferver juntar coentros migados. Tapar o tacho, retirar do lume e deixar o arroz abrir um pouco mais.
7. Servir dentro do tacho ainda quente.



Nota: recomendo que este divinal arroz de tamboril seja acompanhado por vinho Quinta de Camarate, branco seco 2002 (Vinho regional Terras do Sado) do qual amanhã publicaremos a respectiva nota de prova.

terça-feira, novembro 11, 2003

portugal em imagens


Nazaré vista do Sítio


festejar o s. martinho

Festejar o S. Martinho na boa companhia do Baco e do Agostinho (o de Viena de Áustria já aqui citado) resulta sempre numa degustação ímpar.

Aqui ficam algumas quadras de "pé quebrado", inéditas e populares, com o desejo que nos comentários muitas mais apareçam para que eu as possa trazer para a ribalta da Oficina.

(de Thereza)

S. Martinho não se cansa
De alegrar o Zé Povinho
Quando Baco entra na dança
E prova um copo de vinho

É dia de S. Martinho
Almada vai festejar
Abre a adega e prova o vinho
Que aroma! Que paladar!

Com tantos anos vividos
S. Martinho ao acordar
Desperta os cinco sentidos
E vem o vinho provar


(de Vicktor)

No dia de S. Martinho
A tradição em Almada
Na adega prova o vinho
E castanha bem assada

No dia de S. Martinho
P’ra celebrar com amigos
Da adega vem o vinho
Castanhas, nozes e figos.

segunda-feira, novembro 10, 2003

uma flor para soraya


do fundo do baú das memórias

Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos.


Os holofotes

Na época ouvia falar muito em guerra, pois a II Grande Guerra Mundial terminara há poucos anos e as gentes ainda sentiam no corpo e na alma os efeitos de tamanha desgraça que assolara a Europa e, ao fim e ao cabo, todo o Mundo.

Portugal não estivera directamente envolvido no conflito, mas a verdade é que uma aparente e formal neutralidade, Portugal servira de plataforma para as forças beligerantes. Aliás, Lisboa havia sido um dos principais pólos da espionagem, quer alemã, quer inglesa. Muitas situações das batalhas europeias passaram pelas mesas dos cafés, onde se conspirava intensamente.

Os efeitos da guerra eram bem sentidos na casa de todos nós. O racionamento dos bens de consumo mais necessários, o recurso às chamadas “senhas de racionamento” os tempos infindáveis nas filas na expectativa de se conseguir levantar o bens de primeira necessidade.

Vida difícil a de um Povo que não havia participado directamente na guerra mas que sofria a penúria de um país empobrecido pela falta de rasgos de desenvolvimento por parte de um governo, cada vez mais isolado relativamente aos restantes países da Europa e do Mundo.

Na Amadora, onde eu nasci e vivi a minha meninice, havia um aeródromo militar onde estacionava o Grupo de Esquadrilhas de Aviação da República e onde se encontravam instalados potentes holofotes que serviam para fazer a vigilância nocturna dos céus, com o recurso a potentes focos de luz que emitiam.

Recordo-me da emoção, julgo que medo, com que nas noites quentes de Verão quando saía com meus pais fazer uma caminhada pelo jardim ou nas imediações dos Recreios Desportivos, observava nos céus da Amadora as manobras que os tais holofotes efectuavam com pequenas aeronaves em voo de exercício.

Mais do que nunca eu me aconchegava às saias da minha mão enquanto olhava de soslaio para o céu muito escuro rasgado por potentes fachos luminosos.

domingo, novembro 09, 2003

imagens



o meu caderno de viagens

Pequenos apontamentos rabiscados num caderno de viagem e agora partilhados com os leitores. Os sítios, as gentes, os costumes e as curiosidades observados por quem gosta mais de viajar do que de fazer turismo


Um café sem açúcar

O almoço estava aprazado para um restaurante campestre nos arredores de Ascot e a marcação havia sido feita com uma antecedência significativa, pois garantiram-nos ser muito difícil conseguir lugar se assim não fosse.

Ascot fazia parte do meu imaginário da vida da faustosa da sociedade tradicional britânica, com as célebres corridas de cavalos, senhoras de vestidos farfalhudos e amplos chapéus de abas e os cavalheiros vestidos com o rigor dos pares do Reino. Nunca me havia passado pela cabeça que o nosso amigo de Londres aí nos levasse a almoçar.

O nosso grupo era constituído por quatro pessoas. Eu e um colega de emprego, convidados para esta viagem de trabalho a uma empresa dos arredores de Londres ligada às tecnologias emergentes. Um delegado dessa empresa em Portugal. E o nosso anfitrião, português, funcionário da referida empresa na sua sede dos arredores de Londres.

Sentimo-nos pequeninos quando uma enorme limousine nos veio buscar ao hotel e nos conduziu ao restaurante campestre nos arredores de Ascot. Quando chegámos ficámos mais tranquilos, ou talvez não. A nossa limousine seria a mais pequena de entre as que se encontravam estacionadas no parque do restaurante.

O restaurante era dirigido por uma esbelta filha de Albion, muito loira, com um corpo magnífico. O pessoal de serviço às mesas era predominantemente feminino. A confirmação da marcação foi feita num enorme livro, forrado a coiro lavrado, onde lá estava registada a reserva para quatro pessoas. Qual não foi o meu espanto, ao levantar os olhos do livro, deparei na parede em frente com uma série de fotografias da proprietária do restaurante em trajes de caça e equitação. Mas com uma particularidade: estava completamente despida da cintura para cima evidenciando uns esplêndidos seios.

O almoço foi magnífico. As conversas em português animados, mais ainda sempre que a referida senhora se aproximava da nossa mesa muito bem vestida, mas fazendo trabalhar a nossa imaginação. Muito boa disposição foi a tónica do almoço.

A hora dos cafés foram pedidos quatro mais os respectivos digestivos. Os cafés foram servidos sem açúcar. Fizemos a respectiva reclamação e obtivemos uma resposta adequada, no mais correcto inglês. “Os portugueses têm fama de serem tão docinhos e querem açúcar para os cafés?

sábado, novembro 08, 2003

lua zangada

Seis lunações após o primeiro eclipse lunar total verificado no corrente ano, num período desde há séculos conhecido por Saros, terá lugar na noite de hoje para amanhã o segundo eclipse total da Lua, visível em todo o hemisfério Norte. Estes fenómenos acontecem sempre em tempos de Lua Cheia o que acontecerá relativamente a Portugal às 1hora e 13 minutos de 9 de Novembro.

A Lua vai entrar no cone de sombra projectado pelo Sol por interposição da Terra às zero horas e dezoito minutos, verificando-se o eclipse total cerca de 1 hora depois, portanto, às 1 hora e 18 minutos de 9 de Novembro.

O céu provavelmente muito nebuloso na altura vai dificultar a observação do fenómeno, muito embora há poucos minutos eu tenha tido a felicidade de ver a Lua em todo o seu esplendor.

O posicionamento da Lua quando se iniciar a sua entrada no cone de sombra será ligeiramente à esquerda do ponto cardeal Sul irá fazendo a sua deslocação par poente, encontrando-se na fase final do fenómeno praticamente no pondo cardeal Oeste, então, já muito próximo do horizonte, com dificuldades agravadas de observação nas zonas urbanas.

O fenómeno do eclipse lunar está muito associado na tradição popular à zanga, a chamada “Lua zangada” o que não será, igualmente, estranho a alguns arrufos entre os amados. Não é sem alguma razão que a Lua em todo o seu esplendor é deveras benéfica para os amantes.

Observação a não perder pelos curiosos destes fenómenos: a partir das 23:30 horas olhando o firmamento numa direcção entre nascente e o ponto cardeal Sul.




um pouco de humor

O Comendador Nabeiro, numa recente visita a Roma, teve um encontro com o Papa (até porque o Comendador quando vai a Roma vê o Papa). Nesse encontro, Nabeiro fez uma proposta a Sua Eminência.

Os cafés Delta propõem-se fazer uma doação ao Vaticano de 500 mil dólares se nas orações a Igreja Católica substituir “o pão nosso de cada dia” por “o café nosso de cada dia”.

O Papa foi peremptório em rejeitar tal proposta, pois iria contra os preceitos da Igreja.

O Comendador não desarmou afirmando: “Bom... já contava com a vossa relutância pelo que lhe vou reforçar a proposta, ofereço-lhe 1 milhão de dólares!”.

Ainda assim não obteve a aceitação de Sua Eminência, pelo que se viu obrigado a afirmar: Tenho uma última proposta de 2 milhões de dólares! Queira Sua Eminência pensar no assunto e depois me dará uma resposta!

O Papa retirou-se tendo ido reunir com os cardeais que lhe são mais próximos, a quem comunicou:

Tenho duas notícias a dar-lhes, uma boa e outra má.
A boa notícia: Tenho uma proposta de uma doação de 2 milhões de dólares dos Cafés Delta, se substituir nas orações “o pão nosso de cada dia” por “o café nosso da cada dia”;
A má notícia: Temos que revogar o contrato com a Panrico...

Nota: Considero o Comendador Nabeiro um dos mais correctos empresários portugueses, preocupado sobremaneira com os aspectos sociais dos seus empregados.

japoneses assassinos

Há mares no Japão que estão a ficar vermelhos do sangue dos 20.000 (VINTE MIL) golfinhos que as autoridades japoneses autorizaram fossem abatidos. Os japoneses praticam uma autêntica chacina em relação aos golfinhos, pois além de os atingirem e ferirem com o uso de arpões deixam-nos agonizar até à morte, esvaindo-se em sangue.

O Japão é considerado um dos países tecnologicamente mais avançado, muito embora seja uma sociedade que explora o seu Povo de forma cruel. Vejam a forma como trabalham e descansam, sem abandonar os postos de trabalho. Vejam a forma violenta como utilizam o metropolitano em Tóquio, onde autênticos gorilas entulham as pessoas nas carruagens das composições. Vejam a forma como vivem nas grandes cidades tendo pouco mais de um metro cubico como espaço para dormirem.

Onde está a cultura oriental? Onde está o humanismo da região onde o Sol nasce mais cedo? Onde está a tranquilidade das religiões orientais? Onde está o seu saber milenar?

Quero deixar aqui bem clara a minha revolta contra a atitude cruel dos japoneses relativamente aos golfinhos. Quero aqui lavrar o meu protesto à Embaixada do Japão em Portugal.

Neste mundo cruel da globalização económica desenvolverei o máximo dos meus esforços para não consumir produtos japoneses.




sexta-feira, novembro 07, 2003

imagens da minha terra


Rio Tejo - do Ginjal ao Mar da Palha


corpo de mulher

Os Olhos

Teus olhos são o espelho duma alma cristalina
Que no sentir e muito querer é deveras esplendorosa.
Teu olhar é o mais belo encantamento que ilumina
O sonho de quem se abeirou de ti mulher maravilhosa.

Mergulho em teus olhos, mar de promessas sem fim
Águas profundas, cálidas e muito transparentes
Sigo o sonho de uma pérola e de um jasmim
Que de muito sentir elevaram ao infinito suas mentes

Na doçura de teu olhar me perdi e me encontrei
Olhos de mel que por tão belos, doces e sensuais
Me indicaram o rumo e a bom porto eu cheguei
Tranquilamente em puro desejo que olvidarei jamais.

Teus olhos sussurram o que a boca teima em calar
Não mentem nem escondem teus belos pensamentos
São sinceros embora tentem em doce pestanejar
Dissimular teus mais profundos sentimentos

Olhar em teus olhos enche a vida de felicidade
Seu brilho é mais forte do que a luz da Lua e do Sol
Porque contém inteligência, amor e sensualidade
E a musicalidade do belo cantar do rouxinol



quinta-feira, novembro 06, 2003

imagens da nossa costa


Praia das Bicas - Espichel


elmano sadino

O Bocage viajou de Portugal para a Índia, passando pelo Rio de Janeiro numa atribulada viagem marítima, a bordo de Senhora da Vida, que durou cerca de seis meses onde ouve bom e mau tempo. Bocage preferia a tormenta ao bom tempo, pois era para si muito mais inspiradora, além de estar mais de acordo com a sua permanente nostalgia. Os tons negros e cor de chumbo acirravam o sentimento de ausência da sua amada, que em Portugal o atraiçoava continuadamente.

Já nesses tempos de finais do século XVIII os indianos se revoltavam contra a presença imperialista de Portugal, preparando a rebelião de dentro para fora, pois os maiores instigadores viviam dentro da própria corte. Dois sacerdotes goeses tudo preparavam para liquidar a presença de Portugal nessas terras do longe.

Bocage esteve por certo envolvido, não se sabendo ao certo como e até onde. Bocage estava perto do Padre José Custódio que quando se malogrou a conjura fugiu para França, onde foi o Padre Faria de O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas. Bocage vivia na área da vagabundagem.

Mas tinha sempre a sua amada no pensamento:

Da pérfida Gertrúria o juramento
Parece-me que estou ainda escutando,
E que ainda ao som da sua voz suave, e brando
Encolhe as asas, de encantado, o vento;

No vasto, infatigável pensamento
Os mimos da perjura estou notando...
Eis Amor, eis as Graças, festejando
Dos ternos votos o feliz momento.

Mas ah! Da minha rápida alegria
Para que ascendes mais as vivas cores,
Lisonjeiro pincel da fantasia?

Basta, cega paixão, loucos amores!!
Esqueçam-se os prazeres de algum dia,
Tão belos, tão duráveis como as flores.


Bocage o eterno vagabundo... vagabundo dos amores traídos.

assim vai a bogoesfera

No passado dia 3 do mês corrente, o SAPO entrou no mundo dos blogues, permitindo a sua criação e alojamento, de forma gratuita. Foi durante a realização de um encontro informal de blogues, que teve lugar na Sociedade de Geografia de Lisboa, que foi feito o anúncio público desta iniciativa.

Quanto à gratuitidade do serviço agora disponibilizado pelo SAPO, fico sempre na expectativa “do que virá a seguir”. Esta minha expectativa tem origem e justificação numa situação real, que bastante me penalizou, quando iniciei a apresentação de fotografias na Oficina das Ideias.

Para tal, alojei, também gratuitamente, as fotografias em formato .jpg e .gif, num espaço pessoal criado no servidor do SAPO, ao qual fazia as ligações das imagens que pretendia apresentar. Qual não foi o meu espanto quando, passados alguns dias, uma mensagem do SAPO me informava que tinha cerca de trinta dias para fazer a inscrição no serviço Internet da SAPO, para poder continuar a manter esse alojamento.

Esta decisão, implicava que o meu acesso à Internet feito através de cabo, num dos serviços globais disponibilizados em Portugal, passasse a ser feito via rede telefónica, leia-se PT, donde nem sequer sou cliente.

Calculam a “trabalheira” que foi mudar-me “de armas e bagagem” do SAPO para outro servidor muito mais amigável.

Assim eu digo: à segunda só cai quem quer, como diz o ditado popular.

Um segundo comentário que esta situação me merece está relacionado com o oportunismo de utilizar um encontro informal de utilizadores da blogoesfera, convocado com o fim bem específico de analisar este poderoso fenómeno, para fazer um anúncio totalmente comercial, embora com as vestimentas de um serviço público e gratuito.

Lobo com pele de ovelha.

Com tais princípios, com tamanha falta de chá, NESSA NÃO VOU MESMO CAIR.

quarta-feira, novembro 05, 2003

lua maior



sabores de valle de rosal

Romã, um sabor exótico

A romã é originária do Próximo Oriente e está intimamente ligada aos prazeres esquisitos da tradição gastronómica da cultura árabe.

A romã está muito ligada à tradição natalícia de Portugal, sendo uso comê-la como sobremesa no jantar do Dia de Reis e guardar como augúrio de felicidade a pequena coroa que encima o fruto.


A romã, igualmente, designada por granada serve de base a diversas sobremesas e também para o fabrico do licor de romã, o célebre Granadine.

A romã é um fruto único. Constituída por centenas de pequenos bagos vermelho rubi, tem um sabor esquisito e exótico.


Muitas são as receitas gastronómicas elaboradas a partir da romã. Por exemplo:

Romã com Vinho Tinto

Ingredientes
2 romãs
½ litro de vinho tinto
6 colheres de açúcar

Preparação
Descascar as romãs e separar os bagos vermelhos. Dividir os bagos por quatro taças de sobremesa. Adicionar o vinho tinto e o açúcar ao gosto, Apresentar com uma tira avermelhada da casca da romã.


terça-feira, novembro 04, 2003

elevador da boca do vento

É o meio mais actual de ligar a cidade de Almada ao rio Tejo. O elevador panorâmico da Boca do Vento, liga esta zona de Almada Velha ao Jardim do Tejo no final poente do cais do Ginjal.

Do elevador, como a sua designação indica, temos uma das vistas mais bela sobre a Lisboa Ribeirinha, desde o Mar da Palha ate à quebra do rio, onde este se encontra com o Oceano Atlântico.

A partir do Jardim do Tejo, para nascente, podemos tomas uma agradável bebida no Atira-te ao Rio ou no Ponto Final. Para poente podemos visitar o Núcleo Arqueológico e o Núcleo Naval do Museu Municipal de Almada. A não perder!

Na Boca do Vento, na parte superior do elevador, dar uma espreitadela ao Pátio Prior do Crato, onde este religioso que chegou a ser Rei de Portugal viveu alguns anos da sua vida. Mais acima, fica a Casa da Cerca, Museu de Arte Contemporânea de Almada, antigo palácio residencia de D. João de Portugal, citado na obra Frei Luís de Sousa, de Almeida Garret.


elevador da boca do vento e jardim do tejo


um debate interessante

Um texto em que recordava os tempos do “Pão por Deus”, no dia de Todos-os-Santos, gerou uma interessante troca de comentários que trouxe para o debate a eterna problemática da tradição em confronto com o progresso.

É evidente que nos tempos que passam, uma cultura urbana cada vez mais intensa, não se coaduna com tradições de cariz rural, mesmo urbano, mas em localidades de verdadeira vizinhança, em que todos conheciam todos.

No entanto, é gratificante verificar a magia que a tradição ainda tem sobre as pessoas, mesmos os mais novos, em contraponto com o desinteresse que a normalização e a globalização traz à vivência das gentes, onde as vantagens simplesmente se situam na possibilidade de acompanhar minimamente o turbilhão actual da actividade humana, altamente competitiva e concorrencial.

O atento Left, do A Toca do Coelho, colocou o problema na componente política e social, afirmando:
Os radicais chamariam a este fenómeno a uniformização cultural provocada pela globalização económica...

E quando o JM, do Rain Song, questiona:
...o que é que a radicalização de opiniões a favor ou contra a globalização, tem a ver com a perca de identidade.. ou a cultura também deve ser uniformizada... será que as cabeças a pensar igual geram igual dinheiro.. não me parece.

O Left aprofunda o seu pensamento:
Radical é a própria globalização, na medida em que avança com a subtileza de um buldozer formatando tudo à sua passagem. É mais fácil vender coca-colas numa cultura "mcdonaldizada" do que numa cultura de sopa e cozido à portuguesa. Quando o mundo for todo constituído por americanos tranquilos, estará concretizada a globalização. A diversidade cultural é um obstáculo à expansão da economia.

E questiona, por seu turno:
Quando o primeiro McDonalds abriu em Moscovo, isso foi um sinal de democratização ou de conquista imperial?

O António Dias responde à questão levantada pelo Left afirmando
Nem uma coisa nem outra. Foi um claro sinal de que "a moda" está onde a permitem estar.
Nunca ninguém explicou por que razão a cadeia McDonalds não se tinha virado a Leste. Embora possamos perceber porquê.
Com certeza que uma das coisas que se podem associar à McDonalds não é a conquista imperial mas a conquista para a imperial, "o fino", devidamente acompanhado pela "cola" e pela laranjada.


A Deméter, do Segredos de Deméter, comenta mais pela vertente dos usos e costumes:
Nada contra a globalização como forma de conhecimento de outras culturas... mas particularmente fico doente ao ver os brasileiros darem mais importância ao Dia das Bruxas que às nossas festas juninas, bumba-meu-boi, cavalhadas e outras festas típicas.

Que obtém a concordância de JM e vai ainda colher os comentários relevantes de Elsa, do Rabiscos e Letras:
O consumismo e a globalização geram o esquecimento das coisas simples e da tradição. Afinal a tradição já não é o que era! Mas valerá sempre a pena pedir o pão-por-Deus numa cabeça de abóbora ou num chapéu de bruxinha?! Eu prefiro o saquinho!!! Mas gostos não se discutem e cada um com o seu fuso!
Adoro laranjada


E de Lua Lil, do Entre o Sono e o Sonho:
É sempre mais emocionante para mim ver: caboclos de lança a fazerem suas performances, o caboclinhos a entoar com seus arcos e flechas, a ciranda, o coco de roda, o maracatu, o bumba-meu-boi...
(...)


A Lua Lil conclui com um sabor do Nordeste Brasileiro que melhor pode ser apreciado no seu próprio blog:
Uma abóbora também me diz muito e me emociona..
Porém quando recém saída do forno, recheada com camarão, carne de charque, queijos
espalha seu aroma pelo ar e nos faz encher a boca d´agua!!
Viva as nossas tradições!


segunda-feira, novembro 03, 2003

uma flor para liliana


do fundo do baú da memória

Vou procurar e passar a escrito algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos. O pouco interesse que possam ter para os leitores dedicados pode bem ser compensado pelo afecto que pretendo colocar nesta partilha.


Palmada Paternal

Amadora, a minha terra natal, ficava paredes meias com uma zona à época muito industrializada, onde se concentravam unidades importantes da metalo-mecânica. Anos mais tarde, aquando da Revolução dos Cravos essa zona fez parte integrante da Cintura Industrial de Lisboa, e hoje em dia, com os fortes ventos da globalização económica é uma das maiores fontes a contribuírem para o aumento do desemprego em Portugal.

No início dos anos 50 do passado século encontrava-se em plena construção uma barragem no rio Zêzere, a primeira de grande porte que iria constituir uma rede de produção de electricidade com o recurso a energias renováveis, neste caso um curso de água. O fornecimento das enormes tubagens metálicas que iriam constituir o curso guiado da água para produção de electricidade foram fabricadas numa dessas fábricas.

Tratava-se da Sorefame, dedicada à indústria metalo-mecânica com recurso a mão-de-obra e matérias primas totalmente portuguesas, que se situava na Venda Nova, freguesia da Amadora, mesmo ali às portas de Lisboa, nas chamadas Portas de Benfica.

O transporte das enormes condutas metálicas obrigaram à construção de camiões adequados para efectuarem o transporte rodoviário. A parte do transporte que utilizava os meios ferroviários tinha ponto de apoio a estação de caminhos de ferro que se situava a não mais de cem metros da casa onde eu vivia. Nas gares construídas para o efeito estacionavam durante algum tempo as enormes condutas o que sempre atraia a curiosidade dos mais novos, entre os quais eu me encontrava com os meus seis anos de idade.

E lá ia eu com o resto da miudagem da rua para perto de tamanhas estruturas, para nós e para os adultos também coisa nunca dantes visto.

De uma “conspiração” entre o senhor Cancela, chefe da estação e, por sinal, namorado da minha madrinha Elisa, e o meu pai Manel, com estabelecimento de drogaria ali bem perto resultou a ida do meu pai ao encontro da minha curiosidade.

Ciente do perigo que eu corria, ralhou comigo e na minha correria a caminho de casa deu-me uma palmada no rabo que fez com que eu andasse a coxear uns oito dias. Meu pai apanhou tamanho susto que jurou nunca mais me bater. E cumpriu... A partir daí quem fazia as honras dos castigos familiares foi a minha mãe. Benditas palmadas que ela me deu...

a importância da interactividade

Já aqui expressei um dos meus objectivos principais quanto à presença na blogoesfera: a interactividade, a permuta de ideias, a partilha de saberes. Mais importante do que a comunicação unidireccional é a multidireccionalidade como fonte de enriquecimento do saber pessoal.

Donde a importância dos comentários, tanto aqueles que os nossos posts merecem, como aqueles que de uma forma construtiva vamos colocar nos posts dos nossos vizinhos, de perto ou de longe, da blogoesfera.

Com os meus comentários procuro dar a "minha" sequência ao que leio, tentando dessa forma contribuir com o resultado da minha leitura que pode estar bem longe da ideia original de quem escreve.

Os comentários que recebo sempre os valorizo na medida do seu conteúdo construtivo, partilhem ou não da ideia que eu procuro expressar. Alguns deles são de tamanha qualidade que me sinto tentado, e por vezes não resisto, a trazê-los para a ribalta da blogoesfera publicando-os nos meus posts.

A todos os leitores que me honram com comentários somete tenho uma forma de lhes reconhecer: colocar um link na Oficina das Ideias como uma indicação de encaminhamento para os seus escritos.

E além do mais, dizer-lhes: muito obrigado!

ainda o guarani...

Ainda a propósito do post com que pretendi homenagear o meu amigo Carlos Jorge, recentemente falecido, possuidor de uma maravilhosa voz de tenor, que teve o azar de viver em Portugal, pois noutro qualquer País, que desse minimamente importância à cultura, teria conseguido quebrar as grilhetas de escriturário burocrata, dedicando a sua vida ao belo canto, desejo convosco partilhar uma "raridade".

Encontrei no meio dos meus arquivos de papeis e de recordações um pequeno vinil de 45 rotações intitulado "Amanhã ou Depois" editado pela Orfeu em 1985.



Este vinil contém duas interpretações de Carlos Jorge: A que dá o título ao disco, "Amanhã ou Depois", música de Shegundo Galarza e letra de António José, com um solo de trompete por Reis Gomes; O outro tema, "Dez Reis de Sol", música de Shegundo Galarza e letra de António Luís Moita (um outro colega de trabalho, emérito poeta).

Do poema "Dez Reis de Sol" respigamos para este post, com a devida vénia à família de António Moita:

Guitarra na mão
Na voz, o verso que fiz,
A minha canção,
Ao vento a dou para que dê raiz.
Cantiga de trigo
Feliz na terra acordada,
Amada, contigo,
O dó, ré, mi, fá, sol
Dá sol à estrada!
Sol bom!
De som!


Que se registe nesta ampla estrada das comunicações de amizade, para a Eternidade...

domingo, novembro 02, 2003

três meses depois

Três meses já passaram sobre os dramáticos acontecimentos devidos aos devastadores fogos de Verão que flagelaram o nosso País, especialmente, na zona Centro, nos concelhos de Vila de Rei e de Proença-a-Nova.

Muito se disse e se escreveu na altura, tentando justificar o injustificável, mas a rotina veio retirar da ribalta da informação tais acontecimentos. Contudo, o sofrimento das pessoas, que na altura tanto serviu para aumentar tiragens dos jornais e ganhar audiências nos canais televisivos, “quanto maior dramatismo melhor!”, esse sofrimento continua, agora no recolhimento da vida de cada um.

Os governantes, esses, continuam preocupados com o seu bem estar e com o dos seus mandantes; continuam a defender o rápido caminhar para o caos social, à custa da humilhação das classes trabalhadoras.

Logo após os terríveis fogos de Verão, muitas acções de solidariedade apareceram vindos das “entidades do costume”, às quais pusemos sérias dúvidas, pois na nossa lembrança continuava, e continua, a pairar a memória dos resultados da “operação pirâmide” de triste memória.

Independentemente dos milhões de euros que o Governo da Nação disse disponibilizar para o efeito e daqueles que a sociedade civil, através das tais acções de solidariedade, conseguiu obter, as famílias a quem o fogo colocou na mais terrível penúria, continuam a chorar as suas dificuldades.

Vidas destroçadas, emigração forçada para o estrangeiro, recurso ao trabalho em funções para as quais não se encontravam preparados e, fundamentalmente, situações de grande pobreza e sofrimento.

Os governantes continuam a viver na abastança. As populações sofredoras, sofrem cada vez mais.

#5000

O António Dias que não tem blogue mas é um atento leitor e assíduo comentarista do Oficinas das Ideias acedeu a este espaço da blogoesfera, no passado dia 1 de Novembro, com o sitemeter a indicar #5000.

Tinha sido ele, compartilhando com o João Carvalho Fernandes, do Fumaças, o contacto #2000 e, desta vez, acerta de novo no alvo.

Ao António Dias, como gratidão pela sua presença e porque o fez com um número redondinho, tenho para lhe oferecer o livro BLOGS, de Paulo Querido e Luís Ene, autografado pelos autores e com a referência na página 122 Leitor #5000 1/11/2003.

Um abraço amigo para todos que fizeram com que o contador subisse até onde eu nunca pensei que aconteceria.

sábado, novembro 01, 2003

quatro meses na blogoesfera

Parece que ainda foi ontem e já passaram quatro meses desde que, incentivado pelo João, do Fumaças, me lancei neste espaço amplo de afectos e de desafectos que é a blogoesfera. O Oficina das Ideias sente-se, cada vez mais, satisfeito com as amizades que por cá tem encontrado, numa comunidade onde se produzem milhares de páginas de cultura e de saber.

As ideias brotam livres na nossa mente. Temos que evitar que a folha de papel as aprisione

No final de quatro meses de presença diária, quer com a apresentação de novos posts próprios, quer na leitura e comentário de posts de terceiros, o número de visitas a ultrapassarem as 5.000, a uma média diária de 52, com uma presença cada vez mais significativa de leitores e, especialmente, leitoras do outro lado do Atlântico, do maravilhoso Brasil.

Os comentários aos posts do Oficina das Ideias ultrapassaram, neste mês, as três centenas, o que faz aproximar a interactividade dos objectivos pretendidos. Comentários de grande qualidade, construtivos e incentivadores.

Um destaque merecido para ao meus comentaristas, pela importância da sua presença na Oficina:

Catarina, do 100Nada; Niil, do Niilista Optimista; Maizum, do Maizumpomonte; Ulisses, do Despenseiros da Palavra; Sue, do Asa de Borboleta; João C. Fernandes, do Fumaças; Rui MCB, do Adufe; Pedro, do Sintra Gare; João, do Bota Acima; Deméter, do Segredos de Deméter; António Dias, que um dia terá um blogue; Cathy, do Despenseiros da Palavra; Fernando Esteves Pinto, do Escrita Ibérica; Alexandre Monteiro, do No Arame; Vítor Santos, não sei se tem blogue; Nuno M, do Arte de Opinar; Wilson T., do Escrita Solta; Ismael Alexandrino, do La Vita Mia; Lua Lil, do Entre o Sono e o Sonho; Patrícia, do Mau Feitio! Lord N, do 1000 e Uma; Pica Miolos, do Picamioleira; Paulo Simões, do Eu Adoptei; Elsa, do Rabiscos e Letras; Gotinha, do Blogotinha; Calíope, do Mistérios de Calíope; Left, do A Toca do Coelho; e JM, do Rain Song.

A TODOS o meu Muito Obrigado!

O mês de Outubro foi um mês enriquecedor em termos de contactos com bonita gente da blogoesfera. Portugal e Brasil estão cada vez mais próximos, também, por intervenção dos utentes deste maravilhoso espaço de comunicação.

Uma nota final:

No dia 15 do mês de Outubro foi lançado o primeiro livro português sobre blogues, o BLOG da autoria de Paulo Querido e Luís Ene. A sessão de lançamento teve lugar na Ribeira, em Lisboa, no decorrer de um bonito encontro entre amantes da blogoesfera.

Em Outubro a Oficina das Ideias publicou:

01 de Outubro - três meses na blogoesfera
02 de Outubro – água um bem essencial mas vulnerável; prémio nobel da literatura 2003
03 de Outubro – corrupção, compadrio, troca de influências; lanterna chinesa (fotografia); comentar é preciso
04 de Outubro – quem tem medo de rui teixeira?; boas ideias; moda antiga (fotografia)
05 de Outubro – a cia já não é o que era dantes; castelo de almourol
06 de Outubro – um outro olhar; quem vai esclarecer o povo?; castelo de almourol - 2
07 de Outubro – quanta hipocrisia; castelo de almourol - 3
08 de Outubro – che guevara morreu há 36 anos; rostos (fotografia); o fumo desfez-se na imaginação
09 de Outubro – os fogos de verão combatem-se no inverno
10 de Outubro – shirin ebadi prémio nobel da paz 2003; danúbio (fotografia); o romeiro
11 de Outubro – livro sobre blogues; demência; imagens da nossa costa (fotografia)
12 de Outubro – do fundo do baú da memória; vermelho e dourado (fotografia); frutos do alentejo;
13 de Outubro – bloco notas com curiosidades; um outro olhar; do fundo do baú da memória
14 de Outubro – coragem sue (fotografia); sequência de ideias na oficina; à beira rio (fotografia)
15 de Outubro – do fundo do baú da memória; cores de valle de rosal (fotografia); convívio e simpatia
16 de Outubro – do fundo do baú da memória; meu nome é gal (fotografia)
17 de Outubro – o flagelo da fome; liberdade; dia cinzento para o mundo (fotografia); do fundo do baú da memória
18 de Outubro – comentários relevantes; cores de valle de rosal (fotografia); ironia pura
19 de Outubro – entardecer mágico; imagens (fotografia); do fundo do baú da memória
20 de Outubro – o retorno; brincos de princesa (fotografias); do fundo do baú da memória
21 de Outubro – a minha crítica; as cores de valle de rosal (fotografia); do fundo do baú da memória
22 de Outubro – apanha da conquilha
23 de Outubro – mais um último lugar para portugal; a propósito de saberes; pssst... (fotografia)
24 de Outubro – psicólogos para o iraque; um homem não chora
25 de Outubro – comentários que são poemas; mês do idoso; portugal mais próximo do brasil
26 de Outubro – que dúvida hem?; porque não participei na concentração de ontem; contadores de tempo protestam
27 de Outubro – hoje é dia de...; para os meus amigos; pedro, amigo de verdade; joão, amigo de verdade; labuta diária (fotografia)
28 de Outubro – doces palavras; do fundo do baú da memória
29 de Outubro – um quarteto de peso; o guarani
30 de Outubro – o sol de todos nós; inspiração; elmano sadino; 5000
31 de Outubro – elmano sadino; noite das bruxas; noite das bruxas - adenda

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